Ileides Muller

Dormi semente, acordei flor. É dia de poesia!

Textos


CHAPÉU DE PALHA


Na minha infância, chapéu era peça obrigatória. Assim que aprendíamos a caminhar, minha mãe, com muita habilidade, confeccionava o primeiro chapéu de palha, com abas largas e o ia substituindo à medida que crescíamos. “- Não vá ao sol sem chapéu!”, dizia-nos sempre. Habituamo-nos a ele. Por ter muitos filhos, em cada chapéu colocava um detalhe para facilitar a identificação: um viés colorido, uma fita, uma renda, um barbicacho... e cada um conhecia o seu. Eram confeccionados com palha de trigo que ela mesma colhia, preparava uma a uma e guardava amarrada em feixes para a produção anual.
Em noites de inverno, sentava-se ao lado do fogão a lenha e com a palha molhada fazia metros e metros de dourada trança.
Sentada ao seu lado, encantava-me a habilidade de seus dedos, dobrando e trançando sete palhas de cada vez. De tanto observá-la, aprendi a trançar também.
Depois de feita, a trança era cuidadosamente enrolada e guardada à espera do próximo chapéu (capello) que o olhar materno sempre descobria qual dos filhos estava precisando e passava, então, a confeccioná-lo.
Novamente eu a observava.
A linha de costura era especial, de carretel, número dezesseis, grossa. Minha mãe passava-a diversas vezes num bloco de cera para que, encerada, tivesse sua durabilidade aumentada. Eu a ajudava nessa tarefa. Depois, ela iniciava o novo chapéu pela “capellina” (parte alta da cabeça). Costurava a trança em espiral, moldando-a com os dedos até ganhar forma e finalizando na aba em cuja extremidade ela costurava um viés colorido que lhe dava graça e beleza.
Pronto! Felizes, podíamos brincar, passear, trabalhar... sem medo de queimar a pele do rosto.
Sobre nossa cabeça, chapéu era muito mais que adereço. Era a mão invisível da mãe nos acompanhando e nos transmitindo carinho, proteção e bênção.
Ileides Muller
Enviado por Ileides Muller em 01/07/2014
Alterado em 28/12/2014
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