ABANDONO
O silêncio habita as ruínas. Goteja tempo por seus rotos telhados. Paredes vegetam-se de trepadeiras germinando primaveras. Em seu ventre morcegos adormecem sustos dependurados. Aranhas delimitam espaços com teias equilibradas, molhadas de sol. Grilos cicatrizam as noites à espera de amanheceres. Ao seu redor a chuva umedece a hera e lava folhagens enferrujadas. Em triste cadência o vento embala em seu colo a decadência com frenéticos assobios. Janelas tortas espiam horizontes à espera de alguém. Mas, só o abandono estradeiro caminha por caminhos despisados. E a mão silenciosa do tempo len-ta-men-te vai desconstruindo até fazer desexistir o que era. Também sonhos edificados e tristemente abandonados viram ruínas quimeras. Do livro: Universo em Gotas (Imagem: Internet) Ileides Muller
Enviado por Ileides Muller em 05/11/2019
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