Ileides Muller

Dormi semente, acordei flor. É dia de poesia!

Textos


ABANDONO

O silêncio habita as ruínas.
Goteja tempo por seus rotos telhados.
Paredes vegetam-se de trepadeiras
germinando primaveras.
Em seu ventre
morcegos adormecem sustos dependurados.
Aranhas delimitam espaços
com teias equilibradas,
molhadas de sol.
Grilos cicatrizam as noites
à espera de amanheceres.

Ao seu redor
a chuva umedece a hera
e lava folhagens enferrujadas.
Em triste cadência
o vento embala em seu colo a decadência
com frenéticos assobios.

Janelas tortas
espiam horizontes à espera de alguém.
Mas, só o abandono estradeiro
caminha por caminhos despisados.
E a mão silenciosa do tempo
len-ta-men-te
vai desconstruindo
até fazer desexistir o que era.

Também sonhos edificados
e tristemente abandonados
viram ruínas
quimeras.


Do livro: Universo em Gotas
(Imagem: Internet)
Ileides Muller
Enviado por Ileides Muller em 05/11/2019


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